quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Sobre os mortos, a fé, a vida e o destino das almas

Por: Júlio César de Lima Prates publicado em 2/11/09
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A grande dúvida que cerca as pessoas é o eventual destino das almas. Os tolos, aqueles que acreditam no que lhes é contado e ensinado como verdadeiro, por não elucubrarem além do que é como está, não sofrem tanto, pois sequer refletem acerca dos mistérios comparados, do breu, dos destinos da alma ... E é justamente em cima de elucubrações acerca do que se separa da vida, do que leva o corpo a virar um cadáver inerte, é que surgem todas as teorias especulativas sobre o além vida. Afinal, para onde vão as almas? Reencarnam, segundo muitas teorias? Sobem aos céus ou aos infernos, segundo outras tantas? Vão aos purgatórios, segundo dizem alguns? Ou nada disso existe, segundo especulam outros?

O problema das religiões é que cada delas acha que suas verdades são absolutas, verdadeiras e dogmáticas. Cristianismo, islamismo, judaísmo, xintoísmo, confucionismo, budismo, taoísmo, ... cada qual acha que tem o monopólio da verdade. E todas elas impõem as pessoas suas crenças, seus pressupostos, suas teorias, seus cultos e suas verdades.

Se eu tivesse nascido num país islâmico, certamente minhas crenças seriam em Alá, no islamismo e no conjunto sistematizado de teorias que envolvem Maomé e seus seguidores. Mas como eu nasci aqui, no mundo cristão e ocidental, conheço as verdades de Cristo como Verdadeiras.

E assim ocorre com cada um de nós. É claro que o caminho de aceitar tudo como é, de aceitar todas as verdades impostas sem questionar nada, é mais cômodo, é mais fácil. Aliás, a pessoa quanto mais alienada, mas feliz ela é. O alienado, o imbecil, o tolo, o ignorante (eis que todos se julgam sábios) é aquela pessoa que simplesmente crê no que lhe ensinaram e nega as outras verdades que existem nos aglomerados sociais do planeta Terra, com suas diversidades de crenças e reflexões sobre o destino da alma.

Alma? Sim, digamos que eu ilustre minhas reflexões com a palavra alma como sinônimo de Vida, afinal sei bem que se trata de mera especulação.

Outro dia, identificaram as moléculas do envelhecimento e ato de envelhecer poderá – sim – ser revertido. A geração de crianças que nasce nos dias atuais, tem chances de atingir os 100 anos de vida. A medicina quanto mais avança, mais alonga a expectativa média de vida de um povo. A nossa, bem poucas décadas atrás, já foi de 45 anos.

Mas, com todos os avanços científicos e tecnológicos, do átomo ao DNA, da robótica a telemática, uma grande dúvida ainda persiste: qual o destino da alma quando se separa do corpo?

Será que um dia chegaremos a compreender, a luz da razão e da ciência, esse mistério?

Por que nos inquietamos tanto com a morte?

O que – exatamente – deixa nossos corpos?

Enquanto esses mistérios não são respondidos, malandros e enganadores sobreviverão, acumularão dinheiro e farão fortunas em nome de fé, da dúvida e da angústia do ser humano face a incerteza do destino de suas almas.

A data de hoje é consagrada aos Mortos. Enfeitamos túmulos, pintamos sepulturas, colocamos flores e acendemos velas. Rituais de fé, apenas. Ecologicamente falando é melhor queimar os corpos sem vida e ponto final, eis que apodrecemos dentro de sepulturas tórridas.

Os que estão nos túmulos, talvez tenham a resposta mais preciosa de nossas buscas. Talvez, talvez, talvez não existam respostas nenhuma, talvez a vida seja isso mesmo, apenas um incidente e uma ruptura. Atribuímos a Deus as dúvidas e as incertezas às respostas que não temos. Que discutir Darwin que nada. Não queremos saber de evolução, de era pré-cambriana, paleozóica, mesozóica, cenozóica...discutir big-bang? Por que, se Deus criou tudo, e somos produto de Adão e Eva? E aí botamos no mesmo saco da ignorância o projeto genoma, o seqüenciamento do RNA por Sanger, a descoberta de Crick acerca da estrutura do DNA, o conteúdo do DNA – o gens – de Avery, e pro inferno com os ácidos nucléicos de Leven. O que conta mesmo são as crenças, o Yng e o Yang, o Brahma e suas verdades, Olorum e suas verdades, Rá e suas verdades, Ymir e suas verdades, Deus e suas verdades, Eurínome e suas verdades, Ormazad e suas verdades, Tezcatlipoca e Quetzalcoatl e suas verdades...assim é mais fácil. Acreditar no que nos ensinam nos lugares onde nascemos.

É assim a nossa civilização. Boçal. Cada povo acredita que é o centro do universo e cada povo acredita que suas verdades são incontestáveis. Só que existem Verdades e Verdades e Verdades. Talvez tudo seja mentira. Mas são mentiras que convém serem usadas, por que seria um caos o dia em que as pessoas fossem lúcidas e entendessem um pouco de tudo e um pouco de cada particularidade de cada verdade regional de cada povo.

Por isso, vela nos mortos, flores e vamos todos aos cemitérios no dia de hoje.
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