Post publicado em 3 de novembro de 2008
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Puxei uma folha qualquer na memória e comecei a rabiscar uma reflexão sobre o que seria imoral no sentir-pensar de nossos dias. Na volta, caminhando pelas ruas do Centro, preferi traduzir as palavras em idéias que não se calam diante de perguntas famintas. No silêncio, pus poesia como degelo nas tristezas. E fiz com que elas se tornassem mensagem pregadas num varal. Não que resolvesse expor minhas palavras, idéias ou, quem sabe, fragilidades masculinas. Não temo por isso. É que decidi interagir comigo mesmo. Publicamente. Tem vezes que penso que tudo se ergue tão transitório à razão. A vida. A idéia. A paixão. Quem chega e quem vai. Nós apenas conjugamos enquanto vivemos. .
O verbo existe de per si. "No princípio era o verbo", assevera a epifania no primeiro capitulo do Evangélio de João. Sabedoria antiga que ensina o que a vida traz: o verbo sempre esteve presente... Hoje sou eu quem não estou para muitas palavras, sejam verbos, sujeitos ou predicados.
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O homem? A mulher? O em-si? O pra-si? O fruto parido? O fruto proibido? A mão na púbis? O pé na bunda? A boca no falo? O descompasso? O lapso? A tortura? O menor salário? Os juros ou as taras? A mordaça ou o fio dental? A interjeição ou o cuspe? A provocação ou a desistência? A sedução ou a fuga covarde? A nudez ou a vergonha não castigada? O homicídio ou o suicídio? A morte em vida ou a vida sem sentido? O abuso ou a omissão? O tapa na cara ou o que se faz antes? E o que não se faz quando deveria tê-lo feito? O que é imoral? Com que olhos se vê o que é moral? Suspiro. Olho as horas. Observo o semáforo. Atento, atravesso a rua. Entre tanta gente que me esbarra não há nada que me espante...
Seguindo pela rua, telepaticamente, a voz e o sotaque de Clarice surgem como chuva de papel picado:
"O que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesmo."
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Eu me agacho e cato minha resposta nos pedacinhos em branco que ainda escreverei...
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Fonte: Blog Farelos & Sílabas


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