Mas a edição desse ano tentou trazer novidades, se auto-denominou desde os primeiros dias como o BBB da diversidade, graças a presença de participantes dos mais variados tipos e gostos, com direito a negro, nordestina, drag queen, lésbica, intelectual e twitteira, e tinha até os re-BBB. Dividiu os “brothers” em times como os coloridos (homossexuais), os sarados, os belos e os cabeças (!), e até separou o grupo em Casa de Luxo e Puxadinho (ou seria Casa Grande e Senzala), tentando se afirmar como novo, como o BBB dos BBBs.
Noite após noite, por quase 3 meses a Rede Globo transmitiu a vida desses “heróis”, como só o Bial seria capaz de chamá-los. Tentou fazer-nos amá-los ou odiá-los, ou simplesmente olhar pra eles enquanto tomavam sol, malhavam, brigavam, ou simplesmente não faziam nada… um verdadeiro espetáculo do vouyerismo.
Não bastava o próprio programa todas as noites, o BBB ainda nos perseguia em cada momento do dia, assim como o Grande Irmão de Orwell (que se não estivesse morto se mataria ao ver o BBB) que podia vigiar a todos, em todos os momentos, nós aqui do lado de fora éramos ao mesmo tempo perseguidos e perseguidores, uns tentando fugir da isanidade alienante desse programa, e outros sedentos pelas últimas novidades, por cada ato, cada gesto, cada palavra proferida dentra da casa mais vigiada de todo o Brasil.
Contrariando a máxima de que homem algum é uma ilha, o BBB termina sendo a própria ilha a ter como mar suas paredes e o tempo todo é desperdiçado com conversa, namoro, intriga, ginástica, bebedeira. No entretempo, os super-heróis do Bial se digladiam para eliminar os outros e vencer. E é o vale-tudo: fazem alianças, traem, simulam, dissimulam, enfim, tentam se aproximar do Santo Graal, aquele objeto de desejo agora representado pelo cheque de R$ 1,5 milhão.
Ao fim desse BBB10, o que se propunha a ser um desfile de diversidade tornou-se de fato um desfile de preconceitos diversos, fossem raciais, sociais, de gênero ou de qualquer outro tipo, sinta-se a vontade para escolher, e não bastasse as máscaras caídas e os preconceitos velados o ganhador escolhido do povo brasileiro (parabéns pessoal!) foi ninguém menos que a própria essência dos machismos, racismos e preconceitos, velados ou escancarados, aquele capaz de dizer que homens heterossexuais não pegam AIDS, nem se transarem com uma mulher que seja HIV positivo, só gay pega AIDS… e ainda vem o Bial dizer que o tal brother não foi homofóbico dentro da casa.
Mas não é através das minhas palavras que trago a crítica justa a esse Reality Show, mas sim através da cultura brasileira e das palavras do educador Antônio Barreto, um dos maiores cordelistas da Bahia, com os versos mais afiados que nunca depois da polêmica causada com o cordel “Caetano Veloso: um sujeito alfabetizado, deselegante e preconceituoso”, nesse novo cordel, com 25 estrofes de 7 versos cada, ele ataca com força o BBB10, e seu símbolo mor e pai dos brothers: Pedro Bial.
Vale a pena não somente conferir a crítica feita a esse reality show, que de realidade não traz nada, mas também conferir a qualidade da nossa cultura popular, que muitas vezes é esquecida e banalizada em troca de uma indústria cultural vazia e totalmente sem conteúdo.
Para visualizar o cordel “Big Brother Brasil: um programa imbecil” basta clicar aqui e você será automaticamente direcionado para o blog do autor. Confira, vale a pena.
Este artigo também foi publicado nos blogs O Poterkin e Papos & Goles.