Por Luiz Tito
A inegável rejeição ao nome da presidente Dilma Rousseff como candidata à reeleição, manifestada robustamente por parte de setores da indústria, do comércio, das lideranças políticas e profissionais, médicos em especial, parece não ter sido suficiente ainda para ferir de morte as pretensões do PT e de sua representante na chapa. Dilma segue liderando todas as pesquisas, e seus oponentes mais frontais, o senador Aécio Neves e o ex-governador Eduardo Campos, não conseguiram sensibilizar o eleitorado para se incorporar com convicção aos argumentos de cada uma dessas campanhas.
Todos os exercícios de estatística dão conta de que Dilma, se não for retirado da cartola um fato político relevante ou uma proposta consistente de mudanças, será presidente da República por mais quatro anos. Ninguém sofreu maiores ataques, ninguém teve contra si, trabalhando diuturnamente, uma orquestração tão violenta e ampla quanto teve a presidente Dilma Rousseff. No ano passado, resultado das manifestações de junho, Dilma balançou, viu recuar sua aprovação e a de seu governo, mas ambos permaneceram de pé e a oposição atrasou, suspendeu a encomenda do terno da posse.
É verdade que os índices da inflação são desconfortáveis e ninguém duvida que poderão crescer além da meta; onde, segundo o governo, estão controlados. O crescimento econômico é medíocre, devendo ficar abaixo de 1,5% neste ano. Lamentável, mas os economistas conhecem bem essa equação que poderia operar esse perfil. País que não tem moeda forte, como acontece ao Brasil, com dimensões extremas, problemas concretos e diversificados, com uma necessidade imperativa de investimento em políticas públicas e infraestrutura, que convive com práticas de corrupção históricas, quase endêmicas, e uma classe política que beira o limite do inservível no seu perfil, tem, concorrentemente, uma margem muito estreita para mudanças estruturais.
Qualquer estudante de economia conhece os caminhos viáveis de mudança e sabe que é possível fazer crescer a economia. Sabe também que é possível segurar a inflação no chamado centro da meta. E sabe ainda que essas realidades exigem poupança interna, investimentos, demandas controladas, moeda forte, inflação administrada e empregabilidade assegurada. Países grandes, de economia robusta, são o resultado da harmonização desses fatores. E a realidade contrária também expressa os países e economias que estão na outra ponta, a da miséria, ou caminhando para lá, sem volta.
O que as oposições estão tentando mostrar como perspectiva de mudança não fecha o círculo. Nenhum candidato demonstrou, até o momento, onde vai fazer girar a economia e de onde se vão tirar os recursos necessários.
O setor agrícola brasileiro movimenta as exportações e põe no azul nossa balança comercial. Esse mesmo setor não tem estradas para escoar sua produção, não tem portos para exportá-la, sofre o policiamento e as sanções do Ministério Público e de um Código Florestal que já nasceu retrógrado. TCU e TREs sem força para julgar, mas que paralisam obras essenciais. Que se investigue, que se encontrem culpados, que se punam os responsáveis pela corrupção, pelo furto do dinheiro público, mas paralisar obras é de uma burrice sem tamanho, pela qual pagam o Estado e a sociedade. Os candidatos falam isso? Não. Por que têm rabos na gaveta ou precisam desses votos para se eleger e perpetuar o modelo que já vigora? Os candidatos à Presidência da República Dilma, Aécio Neves e Eduardo Campos concordam com a inércia, com a subserviência, com a desonestidade e a sabujice de grande parte dos membros do nosso Parlamento, no plano federal, dos Estados e dos municípios? O que acham sobre o perfil do nosso Poder Judiciário, todos os dias denunciado pela prática de seus excessos, ou pela sua inércia, ou pela conduta criminosa de muitos de seus membros e do próprio sistema? Nossos candidatos se valem da manipulação da imprensa e dos veículos de comunicação para construir suas imagens? A corrupção no Brasil é também oligopólio da Petrobras? Eles, todos, explicam a evolução de seus patrimônios?
Que candidato teve a coragem de falar sobre isso? Então não vamos perder mais tempo com promessas, com desculpas, com sorrisos, porque quem paga essa conta é a sociedade, é o povo.
É um deboche ficar tentando e brincar com a miséria extrema, propormos mágicas que nunca vêm porque elas não existem.
Fonte: Site do Jornal O Tempo
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