sábado, 11 de setembro de 2010

Eles também são candidatos

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A ideia surgiu após o primeiro debate da Band. O jornalista e então mediador Ricardo Boechat apresentou a mim e a outros milhões de telespectadores quatro candidatos à Presidência da República, e a emissora se orgulhava ao adjetivar o debate como “democrático”. Decepcionada, pensei em trocar de canal, mas antes dei uma chance à Band. Talvez os outros cinco presidenciáveis estivessem atrasados, ou tomavam um cafezinho no camarim, entretidos numa discussão sobre a reforma agrária enquanto a produtora lhes retocava o pó-de-arroz.

O debate começou e aparentemente continuaria da mesma forma, até o fim. O único reconhecimento que Ivan Pinheiro (PCB), Rui Costa Pimenta (PCO), José Maria Almeida (PSTU), Levy Fidelix (PRTB) e José Maria Eymael (PSDC) receberam da emissora foi uma breve menção no início do debate, do qual que não fariam parte por falta de representação parlamentar.

O desapontamento ressurgiu quando, na semana seguinte, o Jornal Nacional seguiu a linha da companheira-mas-faz-de-conta-que-somos-inimigas Rede Bandeirantes e deu início a uma série de entrevistas com os mesmos quatro candidatos do debate, durante o tempo que considerava adequado a cada um.

Quem depende ou opta pela TV para se informar sobre a campanha, ou seja, 65% dos eleitores, tem à disposição apenas quatro projetos políticos para escolher em 3 de Outubro (e ainda a divisão desses quatro é absolutamente desigual entre horários políticos obrigatórios, telejornais e propagandas). Nos impressos de grande circulação, a postura é a mesma: a Veja os chama pejorativamente de nanicos e ironiza quando aparecem na mídia, como se fossem café-com-leite na disputa pela presidência.

Posso estar sendo injusta. Talvez minha repulsa tenha sido infundada e a grande mídia não mereça nem o meu desprezo nem o da sociedade. O artigo 46 da Lei Eleitoral garante o direito de participar dos debates aos candidatos que fazem parte de um partido ou coligação com representação parlamentar. Assim, na disputa pela presidência, apenas o PV, O PT, o PSDB e o PSOL – que têm deputados seus ou de sua coligação ocupando cadeiras na Câmara – têm a participação assegurada pela Lei. A Constituição nada exige quanto aos candidatos cujo partido ou coligação não tenha nenhum deputado eleito, e os cinco presidenciáveis são como um ponto facultativo: a emissora convida se quiser.

Mas é o “convida se quiser” que deve incomodar. Se a grande mídia se propõe a fazer um trabalho jornalístico e ignora na cara dura mais da metade do processo eleitoral para o cargo de líder do Executivo, privilegiando uns em detrimento de outros, esse trabalho deve ser questionado. A falta de imparcialidade fica escancarada em época de campanha eleitoral e as emissoras decidem quais são os candidatos de maior relevância, quando deveriam – e a crítica é gasta, mas sempre válida – servir ao cidadão apresentando-lhe todas as suas opções de voto.

Como o repúdio é inútil se não for acompanhado de reações práticas, o Comunicação surge no cenário da comunicação brasileira como um tímido veículo alternativo. Aqui ninguém pode ser demitido – no máximo, estamos sujeitos a reprovar na disciplina por se tratar de um jornal laboratório, o que não seria assim tão terrível, já que teríamos novamente a oportunidade (talvez pela única vez na vida profissional) de experimentar um jornalismo desprovido de segundas, terceiras, quartas e infinitas intenções.

Para cumprir nosso papel de informar com a máxima isonomia e manifestar um repúdio prático, damos início à série “Eles também são candidatos”. Trata-se de entrevistas em formato ping pong com os cinco presidenciáveis que a grande mídia ignora, e que os veículos alternativos têm o dever de mostrar. Na série, o Comunicação oferece seu modesto espaço não apenas para que os candidatos exponham suas propostas, mas principalmente como forma de reação à postura incoerente e antidemocrática da grande mídia. Nenhum dos cinco precisa desse espaço, pois têm maturidade política suficiente para driblar o oportunismo sem precisar que pequenos veículos estudantis intervenham por eles; tampouco temos algo contra os outros quatro candidatos. O material, aqui, é nossa forma de protesto contra a postura da mídia. A Veja nos zombaria com gosto, também, se algum dia tivesse acesso ao nosso quase ingênuo manifesto. “Nanico se unindo com nanico”. Previsível.

Por que não dar espaço a todos os candidatos?

Porque não se encaixam na proposta da série. Talvez um leitor perspicaz constate que, ao entrevistar apenas cinco e não os nove, estamos agindo da mesma forma que as grandes redes, mas no sentido contrário. Concluímos que a série perderia o papel contestador se assumíssemos uma postura cínica querendo dar lição de moral nos colegas de profissão. Entrevistar todos seria dizer, apenas, que aqui vemos todos da mesma forma, e isso limita a missão de questionar. Mais que fazer as coisas da forma correta, queremos contestar as que estão erradas.

Por que não o Plínio?

O candidato do PSOL também enfrenta o oportunismo da mídia hegemônica, que lhe oferece alguns minutos aqui e ali para fingir que não é assim tão injusta. Decidimos não incluir o Plínio na série a partir de um único critério: ele participou do debate. Nada pessoal.

Não posso acabar esse texto antes de enfatizar que as opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do jornal. Porque, felizmente, o Comunicação não entra no raciocínio mercadológico, e cada membro da equipe pode, dentro da ética jornalística, posicionar-se e manifestar-se como quiser.
Carolina Goetten
É estudante do 6º período de jornalismo e editora de Política do Comunicação

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