Uma campanha da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em parceria com a Pastoral da Criança, Pastoral da Saúde, Franciscanos, Movimento de reintegração das pessoas atingidas pela hanseníase (Morhan), Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Saúde e o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC)
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A CNBB convida toda a Igreja no Brasil para no dia 10 de outubro de 2010 somar esforços com a sociedade e oferecer informações atualizadas, para superar os preconceitos e o estigma em relação à Hanseníase, uma doença que tem cura! Além dos roteiros homiléticos oferecidos pela CNBB, levantamos alguns dados e reflexões, para que possamos estar unidos “num mesmo pensar e agir”, no intuito de ajudar as pessoas a começar o quanto antes o tratamento desta doença:
1. Na Bíblia, sob a denominação de lepra (tradução da palavra grega “lepros”, que por sua vez é tradução do hebraico “tsara at”) são nominadas diversas doenças da pele, de caráter mais ou menos grave; entre elas pode figurar, pelo menos em alguns casos, aquela que hoje, no Brasil, se chama hanseníase.
2. Hoje, após a descoberta do bacilo por Hansen (1873) e dos remédios (poliquimeoterapia), a doença se torna bem conhecida e tem cura. Quanto mais cedo for reconhecida e tratada, melhor. Entretanto, precisamos fazer mais: não podemos permitir que crianças continuem sendo contaminadas. Precisamos fazer com que os homens se cuidem mais, já que as mulheres, pela sua característica de cuidadoras, também se preservam mais. É nosso dever agir de forma natural diante do cuidado que devemos aos nossos doentes, pois assim as dores transformam-se, aos poucos, em esperança. A Hanseníase tem cura!
3. No Brasil, apesar da redução drástica no número de casos, de 19 para 3 doentes em cada 10.000 habitantes, a hanseníase ainda se constitui em um problema de saúde pública, que exige uma vigilância permanente. Em 2009 foram descobertos 37.610 mil casos novos, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste.
O que todos devem saber e podem informar:
Quem tem os sinais da doença (manchas esbranquiçadas no corpo, com diminuição da sensibilidade, perda de força nos músculos das mãos, pés e face) ou tem dúvidas deve procurar o serviço de saúde mais próximo e pedir para fazer um exame.
Ele é realizado na hora pelo médico.
A hanseníase, se tratada tardiamente, pode deixar sequelas, como perda da força física, ou deformidades.
A hanseníase deixa de ser transmitida, quando o doente inicia o tratamento.
A medicação é gratuita e está disponível nas unidades de saúde.
Quem tem a doença, pode abraçar os outros e não precisa ter roupas separadas, enfim, essa pessoa deve levar uma vida normal.
E finalmente, o tratamento deve ser feito de modo completo, sem interrupção.
4. Conhecendo a doença e tratando-a como se deve, poderemos, com o tempo, superá-la e evitar tanto sofrimento às pessoas. É só com a participação ativa das diversas instâncias da sociedade que se poderá superar mais facilmente a hanseníase.
5. Enquanto houver pessoas que adoecem ou que sofrem sequelas, elas precisam de apoio, respeito, compreensão, e serem atendidas nos seus direitos, evitando-se qualquer forma de marginalização.
6. A mensagem de fé deste domingo vai além da cura de uma doença e da boa educação de quem foi curado e que volta para agradecer. O evangelista Lucas, em sua preocupação com todos os marginalizados, nos apresenta um milagre em que os doentes se transformam em sinal: são pessoas que recebem a graça salvadora de Deus que os transforma.
7. Para compreender o valor deste sinal, é preciso prestar atenção em alguns pontos:
a) O ponto de partida é a súplica: “Jesus Mestre, tende piedade de nós!” O gesto deles resume o grito de todas as pessoas que se sentem necessitadas e batem à porta do Salvador em busca de socorro.
b) O milagre tem um duplo efeito: para os nove, o resultado foi que voltaram a ser o que já eram: reentrar na vida humana e religiosa do povo de Israel, o que não era pouco. Eles observam a lei, obedecem à palavra de Jesus, porque é cumprimento da lei, mas se julgam curados porque observantes, consideramse merecedores.
c) Para o evangelista, porém, do encontro com Jesus espera-se uma mudança radical como aconteceu com o samaritano.
e) O Samaritano voltou, “glorificando a Deus em alta voz”. O milagre lhe abriu os olhos para o sentido da missão e da pessoa de Jesus. Ele retorna para Jesus e agradece pelo dom recebido. Não saberia mais aonde ir. Encontrou em Jesus “o seu lugar” e se colocou ao seu serviço.
d) Naamã, o sírio, por sua vez, passa da cura à fé: não reconhece mais outro deus senão o Deus deIsrael.
8. Nem sempre é fácil descobrir Jesus como o verdadeiro dom de Deus para nós e aceitá-lo totalmente, sendo agradecidos. Pessoa de fé é aquela que recebe o dom de Deus como o samaritano que, curado e agradecido, leva uma forma de vida renovada.
9. O milagre da cura exterior da doença comportava na salvação; que exige uma resposta de alguém que se sente reconhecido e transformado. Para o samaritano, o que começou como uma cura física, tornou-se a salvação definitiva.
10. Em diversas épocas da história, seguidores de Jesus assumiram a atitude do Mestre, colocando-se ao lado dos pequenos e doentes. São Francisco de Assis talvez seja o modelo mais emblemático, pois não queria apenas dar esmolas aos leprosos, queria sentir, vivenciar a dor extrema da rejeição, do abandono e da dor física pelo amor que tinha ao Deus que ele via no rosto daqueles irmãos enfermos e marginalizados. Séculos depois, São Francisco Xavier, também se destacou pela dedicação aos marginalizados, entre eles, os leprosos de quem cuidava pessoalmente. No século XIX, o padre Damião de Molokai transformou sua vida em um testemunho de enorme grandeza evangélica indo morar na ilha onde os leprosos eram segregados e esquecidos, cuidando deles e organizando-os em comunidade, fazendo com que resgatassem sua dignidade roubada. A vida desses santos homens de Deus revela-nos o caminho de sua missão: doaram suas vidas oferecendo-as ao cuidado dos mais excluídos de seu tempo. Isso lhes proporcionou experimentar aquilo que Jesus havia proposto: viver o amor evangélico.
11. Mas é verdade também que, pelo menos indiretamente, a Igreja influiu para cultivar o preconceito, por exemplo, quando associou o pecado como a “lepra da alma”. É interessante notar que no Novo Testamento apenas os “leprosos” eram purificados; todos os outros doentes eram curados. Além de toda a idéia de
impureza ligada à doença denominada “lepra”, implicando num ritual de purificação, segundo uma crença disseminada entre os judeus, aguardava-se a erradicação total da mesma com a vinda do Messias. No relato de Mt 11,5 e Lc 7,22, Jesus “purifica os leprosos” e confirma sua missão como Messias.
12. Esperamos que os cristãos, segundo Jesus, continuem “tocando” os que são acometidos pela hanseníase, levando-lhes simpatia, informação, apoio e cura, conduzindo-os na conquista da saúde e a participar ativamente de sua comunidade de fé!
13. Por isso, pedimos a colaboração de todos, para que, neste dia 10/10/2010, em nossas celebrações, de alguma forma, seja feita referência a esta enfermidade que ainda assola o nosso país. E nos comprometamos com o Evangelho através de atitudes concretas de solidariedade, respeito, atenção e amor para com os nossos irmãos e irmãs acometidos pela hanseníase.
14. Peçamos ao Senhor que nos acompanhe e proteja nesta missão a nós confiada. E que Maria, a mãe das dores, seja sempre o nosso modelo discipular, permanecendo ao pé da cruz como sinal da comunhão com os seus filhos e filhas de todos os tempos!
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL
Secretariado Geral
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